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Eu Quero Querer

Eu quero me apaixonar Eu quero querer uma pessoa Eu quero querer uma risada Eu quero querer um sorriso Eu quero querer uma mão na minha Eu quero a urgência do toque Eu quero a necessidade da boca Eu quero os rastros dos dedos Eu quero o pulsar do coração Eu quero a falta de ar Eu quero o estômago destranbelhado Eu quero o olhar em microscópio Eu quero a imperfeição Eu quero um olho maior que o outro Ou um sorriso torto Eu quero as mãos atrapalhadas As palavras mal acabadas Eu quero as conversas de madrugada Eu quero os sorrisos bobos Eu quero a confiança de segurar a mão Eu quero um flash de olhos Eu quero a gordura localizada Eu quero as pontas, as curvas, os retornos Eu quero acordar de manhã com falta de ar Por causa do peso de alguém sobre mim Eu quero o contato dos olhos Eu quero amar os erros Eu quero as conversas sérias Eu quero os desentendimentos Eu quero a chama dos toques Eu quero acordar e preparar café para alguém Mesmo que eu o queime Eu quero ir na fest

Eu quero que alguém me veja

Eu quero que alguém me veja Eu quero que alguém me veja Eu quero que alguém me veja E quem não quer? Ser aquela mocinha dos livros Aquela que é vista por uma pessoa Apenas uma Eu quero que alguém me veja Eu quero que alguém veja quando Eu estou animada porque estou sozinha E sou só eu e o silêncio. Estável. Quero que alguém veja como Eu me inspiro, piro, giro, danço, rodopio Quando estou sozinha Quero que alguém veja A Rua dos Fuscas Coloridos E olhe para a rua feia, marrom, esburacada E larga demais E veja os meus olhos ali. Eu quero que alguém me veja Dançando terrivelmente com a música que eu amo Cozinhando algo que eu nunca fiz antes Quero que alguém me veja quando eu estou escrevendo Como eu mordo, lambo e mastigo meu lábio Como minha testa se vinca em concentração Como minha mão escreve rápido numa letra descuidada. Como a minha letra se entorta porque Eu sempre insisto em escrever em papel A4 Quero que alguém me veja quando Na madrugada, eu me remexo, me torturo

Não ser Brasileira

Eu não sei não ser brasileira. Quando eu ando, eu ando brasileira. Eu ando com meus pés no samba E no funk que nasceram ambos nos morros Gingando pelas ruas da cidade com O calor do sol na minha testa, nas gotas do meu suor Suor esse que vai além da transpiração Que vai do trabalho de quem cozinha na rua Que vai de quem desce e sobe o morro No mesmo gingado que o meu. Nos meus olhos, tudo está amarelo e vibrante. Tudo está brasileiro. Quando eu amo, eu amo brasileira. Meu amor vai ser o cheiro de café forte. Vai ser as toalhinhas da minha avó. Vai ser a feira e o caldo de cana e o pastel. Vai ser o batuque dos tambores de carnaval Meu amor vai ser serpentina e confete jogado para o alto Vai ser brasileiro. Vai ser o pão com manteiga e o café de manhã Vai ser o brigadeiro e o pão de queijo Vai ser o orgulho e a folia Vai ser negro, branco, pardo, colorido Vai ser suor escorrendo do meu cabelo Vai ser arroz e feijão e mistura Vai ser praia e vendedores ambulantes Eu não sei n

Carta Aberta

Querido leitor, A carta abaixo é um desabafo. Algo que eu simplesmente preciso tirar do meu peito, porque eu simplesmente sinto que eu atingi meu ápice. Meu relacionamento com meu pai sempre foi ótimo. Até que eu comecei a fazer terapia. Não é que depois da terapia meu relacionamento com meu pai tenha mudado, eu só percebi que ele não era tão bom quanto eu imaginava. E percebi que muito do que eu sou hoje tem a ver com o meu pai. E muitas coisas ruins também. Eu vou fazer uma lista aqui, uma lista das coisas que eu me lembro e que me formaram enquanto pessoa por causa do meu pai. Muitas delas não são coisas boas, acontecimentos felizes. Muitas delas são muito ruins. Um dos primeiros acontecimentos de que me lembro foi quando eu era nova demais para me lembrar de quão nova eu era. Eu não podia ter um cachorro, então o mais próximo disso que eu tinha era um cachorrinho de pelúcia branco que eu tenho até hoje e ao qual eu sou muito apegada, mais do que a maioria das pessoas achar

Aos Poetas Decadentes - Capítulo IV

O amigo: um ser que a vida não explica Que só se vai ao ver outro nascer E o espelho de minha alma multiplica... — Vinícius de Moraes, Soneto de Amizade Oliver observou Chris atentamente, hesitante. O garoto parecia uma boa companhia e era extremamente engraçado com seu humor seco e sarcástico de sempre. Eles tinham passado a maior parte do caminho conversando e o sotaque de Oliver havia mantido as pessoas a distância, mas Chris não parecia se importar. Ele era uma criatura singular, com certeza, pensou Oliver, analisando o novo colega. Tinha cabelos ruivos cacheados e os olhos castanhos que desdenhavam de tudo e todos, lembrando ao garoto de si mesmo antes de tudo acontecer. O Oliver de antes era irreverente e sarcástico, tanto que conseguia exasperar até mesmo seus pais, que eram o epítome da paciência, mas tudo mudou depois que sua mãe fora capturada. Mudou porque Oliver sabia que não deveria dar mais trabalho ao pai do que Anton já tinha para conseguir sust

Aos Poetas Decadentes - Capítulo III

Dentro da noite que me rodeia, Negra como um poço, de lado a lado, Eu agradeço aos deuses que existem Por minha alma indomável — William E. Henley, Invictus          Christian não queria conversa, mas ao que parecia, ninguém naquela casa era capaz de entender o conceito de espaço pessoal e privacidade. Talvez por isso seu pai estivesse quase esmurrando a porta de seu quarto, dizendo com sua voz profunda e poderosa para que ele a abrisse. E ele iria. Alguma hora entre ter saído do banho e conseguir se vestir para dormir.          Ele sabia que sua mãe acabaria sofrendo se não saísse do quarto logo, por isso se apressou em colocar a roupa e abriu a porta com violência, encarando Maxwell com os olhos duros.          — O que você quer? — perguntou, sibilando com raiva enquanto seu pai o encarava com uma expressão grave, os olhos castanhos como os do filho eram a única coisa que explicitavam sua fúria. E Chris nem mesmo sabia o motivo de todo aquele sentimentalismo.     

Por um Mundo Mais Gentil

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Eu tenho tantos amigos chorando no meu colo. Tantos deles chorando escondidos achando que não têm onde ou em quem se apoiar. Tantos deles sentem tanta dor que parecem estar se afogando. Tantos estão desistindo. Tantos estão perdidos. Estamos todos nos afogando. Nos queimando em ódio e crueldade. Nos torturando em Damas de Ignorância com seus espinhos cortantes. Nos matando com nosso próprio veneno. E eu posso sentir. Posso sentir o sangue caindo na terra Quando um arco-íris se quebra. Porque esse também é meu sangue. Posso sentir o hematoma dela Porque a pele também é minha. Posso sentir a rejeição da cor Porque também é meu medo. Posso sentir porque é meu coração. Um coração humano Que bate independente da textura Do soar. Do sabor Do cheiro Da visão. Meu coração está nas páginas de um livro sagrado Mas está principalmente dentro de cada um que é meu semelhante. Meu coração está no preto, na mulher, no homossexual Na favela, nas rodas de Umbanda,